Quando a vingança deixa de ser sonho e passa a ser necessidade
Acredito eu que não sou uma pessoa vingativa, mas eu posso estar errada. A gente tem o costume de esquecer e deixar pra lá as coisas ruins que a gente faz, então posso estar falando besteira. Mas ainda que eu possa ser vingativa, eu gosto de imaginar que não sou e ouso dizer que não compactuo com este tipo de comportamento, muito embora eu ache a agressividade (resposta violenta a um estímulo aversivo) algo de extrema importância para as nossas vidas. Enfim.
Este texto não é sobre uma novela chinesa, mas preciso citá-la pois foi o que me motivou a escrevê-lo. Ashes of Love é um drama chinês baseado em um romance do gênero xiānxiá, o que tecnicamente significa que tem criaturas mágicas imortais (por vezes chamadas de deuses), artes marciais e muita influência do budismo e taoísmo. Para resumir, a história narra o encontro de Jin Mi, filha da Imortal das Flores, com Xu Feng, Imortal do Fogo, e a partir disso surge aquele romance bonito e enrolado que estamos acostumados a ver em dramas. Porém, como todo bom romance, há um triângulo amoroso e quem está atrapalhando que o casal fique junto é Run Yu, o Imortal da Noite, meio-irmão de Xu Feng. Os dois são filhos do Imperador Celestial e, embora Xu Feng seja o mais novo, ele é o herdeiro do trono, visto que é o único filho da Imperatriz Celestial.
Acontece que o Run Yu
Em um dado momento, uma personagem fala que as ações de Run Yu são apenas efeito, segundo o princípio da causa e efeito. Trata-se de uma resposta. Não é mais uma questão de prazer, mas uma necessidade. Run Yu precisa se libertar de tudo aquilo que foi feito com ele, mas a única maneira que ele sabe fazer isso é a maneira que ele aprendeu: tomando o controle de tudo, arregaçando com quem estiver em seu caminho. Afinal, seus pais foram os melhores exemplos. E tudo isso me pôs a pensar que, ainda que eu não concorde com as atitudes do Imortal da Noite, eu simplesmente não consigo culpá-lo. Há apenas uma ou duas vezes em que eu realmente reprovo suas ações, mas de forma geral eu só consigo me identificar. Ao ver Run Yu se vingando de todos aqueles que fizeram mal para ele, eu só consigo sentir que ele está certo, que está tudo bem, que esse é o caminho. E quem me dera eu poder fazer uma coisa dessas!
Eu acredito que todos nós somos diretamente responsáveis pelo curso que nossas vidas levam e devemos nos responsabilizar por aquilo que fazemos de errado. Felizmente, isso é algo que Run Yu também faz, no fim das contas. Mas ainda que os 6 reinos insistam em culpá-lo, eu não consigo. Por mais que ele seja reponsável pelas suas próprias cagadas, eu simplesmente não consigo.
Afinal, deixe uma criatura por séculos abandonada, sem sentir qualquer tipo de carinho ou ter qualquer poder. Depois, introduza uma dose mínima de afeição. Em seguida, mostre que existe a possibilidade da criatura conseguir poder e, supostamente, carinho, de uma maneira rápida, ainda que não ideal ou socialmente aceitável. Aí está a receita para a criação de um monstro. E, sinceramente, neste momento já não há mais um único ser capaz de apontar um dedo e falar alguma coisa. Nenhum de nós é totalmente vítima, mas ninguém tem o direito de se safar das suas cagadas no final.
Run Yu, obrigada por me mostrar que a vontade de cometer atrocidades está dentro de mim também, e por me lembrar que eu não preciso necessariamente me explicar e me fazer de vítima para que eu mantenha a aparência de uma pessoa digna quando tudo estiver
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