Inference Notes: uma ideia bacana e uma execução que peca


Estou escrevendo este post após assistir duas produções com o nome de Inference Notes. Se eu fosse você, nem perderia meu tempo procurando mais informações, porque além de só ter avaliações ruins em todos os sites de filmes e séries, não existe muita informação sobre as produções além do elenco e da sinopse. E é exatamente por isso que escrevo este post: eu tô bem confusa e encucada.

Eu comecei assistindo a série, que possui 20 episódios e foi lançada algumas semanas antes do filme (com o mesmo nome, mas com um elenco e uma história bem diferente). E eu não sei se o problema sou eu que sou burra, se estou acostumada a dramas mais compridos e mais lentos, mas eu senti que o ritmo desse drama foi meio acelerado e, ao mesmo tempo, parecia que nada acontecia. Foi bem perceptível que o plot estava seguindo em frente, mas ao mesmo tempo esse ritmo fez parecer que nenhum daqueles acontecimentos tinha alguma profundidade — fazendo até mesmo você esquecer que existe algo maior por trás de tudo. Eu não sei bem o que aconteceu, se foi o script que foi mal escrito (muito provável), se foi a atuação de parte do elenco (tinha um pessoal meio fraquinho, viu?) ou se foi porque os personagens principais não tinham química nenhuma (e eu nem tô falando isso num sentido romântico), mas até chegar na reta final do drama, eu senti que não assisti nada além de um monte de assassinatos.

Inference Notes: o drama

O drama se inicia em uma cena super estranha que eu não entendi direito, mas parece ser uma organização secreta que de alguma forma está relacionada ao transplante de coração da personagem principal, Xia Zaoan, que, após a cirurgia, descobre que o dono do coração transplantado, Edison, está coabitando seu corpo como numa pessoa com transtorno dissociativo de identidade. Xia Zaoan é uma idol e faz parte de um grupo musical. Ela tem um melhor amigo, Mi Kaka, que tem habilidades dedutivas muito boas e tem um irmão que é policial, Mi Jie. Por conta desse “dom”, Mi Kaka frequentemente auxilia o irmão nas investigações. Há também Qi Mu, um veterano da faculdade por quem Xia Zaoan é apaixonada. O negócio começa a ficar estranho quando uma pessoa da produção do grupo de Xia Zaoan é assassinada e torna-se claro que todas as meninas do grupo estão correndo risco de vida. A partir disso, Edison começa a tomar a frente de Xia Zaoan com bastante frequência, assistindo Mi Kaka e Mi Jie a investigar os assassinatos.

Lá pras tantas, eles descobrem que existe uma organização chamada Poker, que é uma espécie de Illuminati que, por meio de uma tecnologia inspirada no teorema de Laplace, consegue orquestrar os crimes perfeitos: assassinatos por probabilidade. Isso significa que eles calculavam as chances de uma pessoa morrer em uma determinada situação e manipulavam o ambiente para que a morte acontecesse, sem que tivesse alguma maneira de provar o seu envolvimento na morte da pessoa (resumindo, fazer parecer um acidente). Contudo, absolutamente nada disso ficou claro durante o drama, e eu só fui entender isso quando assisti o filme que, como disse anteriormente, tem uma história diferente do drama. De qualquer forma, é nesse momento que Edison revela ter feito parte dessa Organização Poker e ter sido um espião para a CIA (ou algo assim, não lembro). Na realidade, o plano de Edison era tirar essa tecnologia das mãos da Organização Poker e, obviamente, ele foi descoberto e morto durante esse processo. Acontece que, a partir de então, a própria Organização Poker está convencida de que Edison ainda está vivo (o que é verdade) e começa a fazer uma “limpeza interna”, ou seja, mata aos seus próprios, a fim de acabar chegando nele e evitar maiores problemas. É isso que faz com que a girlband de Xia Zaoan seja envolvida.


Contudo, neste momento ainda existem algumas pontas soltas que se ligam nos episódios finais, quando é revelado que Qi Mu é, na realidade, um dos membros da Organização Poker. A história de Qi Mu não é muito bem explicada, mas aparentemente ele está na organização desde que era criança e sabe de coisas que muita gente não faz ideia, de modo que ele consegue manipular toda a situação para atingir seus objetivos, que também não são claros, mas envolvem livrar-se da Poker e prejudicá-la de alguma forma. Qi Mu é o típico personagem que viu muita coisa, sabe de muita coisa, e acaba simplesmente enlouquecendo. Claramente, o meu personagem favorito da trama.

A série termina de uma maneira extremamente confusa, com Qi Mu e Mi Jie (irmão do Mi Kaka) trabalhando juntos contra a Poker. Porém, não há uma conclusão definitiva (inclusive tem um baita cliffhanger no final), o que me faz pensar que provavelmente eles pensaram em fazer uma segunda temporada ou algo do tipo, mas provavelmente devido a repercussão ruim do drama (e do filme), essa continuação não saiu e nunca vai sair. Acho importante frisar que estou especulando, porque não encontro informações sobre isso em lugar nenhum.

E o veredito é que: a atuação de Wang Duo é o que salvou o drama. Apesar do plot ser relativamente bom e ter um potencial super bacana, com questões como elitismo, teorema de Laplace, entre outras, a execução foi péssima e isso deixou o drama confuso e até mesmo entediante em certos momentos. Ver um monte de gente morrendo e não ter nenhuma conexão emocional com os personagens não faz sentido nenhum. As coisas começam a ficar interessantes quando Qi Mu revela quem ele é e a atuação do Wang Duo a partir daí é sensacional. Tem umas cenas bem confusas, mas, novamente, culpo mais um script mal feito do que o ator.

Inference Notes: o filme

Agora vamos para o filme. Para começar, supostamente o filme contaria a mesma história, mas não. Há semelhanças, mas parecem mínimas. Primeiramente, o cast é inteiramente diferente, mas por algum motivo desconhecido os produtores resolveram conservar o Wang Duo, que está presente no filme como Qin Yifan, que não é o Qi Mu mas ao mesmo tempo é o Qi Mu, porque são personagens que cumprem o mesmo propósito na trama, mas são completamente diferentes.

O filme também se inicia com Xia Zaoan recebendo um transplante de coração, mas ela não é uma idol. Nessa adaptação, ela é uma universitária gênio da matemática que está concorrendo a uma vaga em Princeton. Qin Yifan é, de certo modo, seu concorrente, pois também é um gênio da matemática que está planejando ir para Princeton, e deseja ir junto com ela pois ele gosta dessa concorrência — por alguns instantes, dá até pra pensar que ele é apaixonado por ela, mas ao conhecer melhor o personagem, fica óbvio que seu interesse não tem nada de paixão ou amor. O problema começa quando surgem boatos de que o pai de Xia Zaoan se envolveu em atividades ilícitas para conseguir o coração a ser transplantado.

Vale ressaltar que Qin Yifan faz parte de uma organização meio sombria, chamada Reborn, mas isso não é segredo para ninguém: dentro da universidade, a organização é conhecida, mesmo que ninguém saiba quais as atividades que eles desenvolvem. E, no caso, as atividades que eles desenvolvem são as ações literalmente perfeitamente calculadas, pois eles utilizam a mesma tecnologia da Poker (inexistente no universo do filme) para prever os acontecimentos, e isso inclui os assassinatos por probabilidade.

A medida em que o boato da ilegalidade da obtenção do coração se espalham, Xia Zaoan se envolve no Clube de Inferências, onde está Mi Kaka (que, no filme, é um personagem nada a ver com o personagem encontrado no drama) e um outro rapaz, chamado Li Xiaochong, que é o melhor amigo do rapaz que morreu “em um acidente” e doou o coração para a protagonista. O roteiro do filme é bem melhor escrito, existe muito mais profundidade na relação entre os personagens e, em geral, me divertiu bem mais do que o drama, apesar de que eu gostaria que o Qin Yifan fosse mais parecido com o Qi Mu (falo mais sobre a diferença dos personagens depois).

Diferentemente do drama, o final do filme não fica em aberto; você tem a sensação de que aquilo acabou ali. Contudo, chega uma última personagem secundária que abre espaço para questionar tudo aquilo que você assistiu até agora, o que foi a cereja do bolo para mim. O filme não é ótimo, mas é bem superior ao drama, e eu me diverti bastante com ele. Desta vez, não foi a atuação de Wang Duo que salvou o filme, mas o filme que conseguiu fazer um trabalho relativamente bom em me entreter.

Qin Yifan vs. Qi Mu


Qi Mu e Qin Yifan tem algumas semelhanças, mas são personagens bem diferentes. Enquanto Qi Mu possui características de uma personalidade mais psicótica, Qin Yifan exibe um comportamento mais antissocial, beirando a chamada psicopatia (pra quem não sabe, tem diferença entre psicose e psicopatia). Apesar de eu gostar muito dos dois personagens e adorar a atuação do Wang Duo nos dois casos, Qi Mu é o que leva o prêmio de “personagem quebrado detentor do meu afeto”, porque eu não resisto a esse tipo de personagem, risos.

Uma coisa que me deixa muito triste é ver um artista bom se envolvendo em trabalhos não tão bons assim, especialmente porque na maior parte das vezes isso não é culpa deles. Wang Duo merece todo o reconhecimento do mundo, pois sua atuação é a melhor em absolutamente todos os trabalhos que vi com ele (contando esses Inference Notes, também vi Bloody Romance, que planejo comentar um outro dia), e infelizmente isso é uma coisa que ele simplesmente não tem — e eu não faço ideia do porquê.

A confusão

No início do post, eu falei que estou confusa e encucada. Gostaria de usar essa parte final do post para explicar o porquê. O drama foi lançado no dia 3 de novembro de 2017, enquanto o filme foi lançado em 24 de novembro de 2017. Ou seja, os dois foram lançados na mesma época, os dois possuem o mesmo título, mas não possuem o mesmo cast e nem a mesma história. Um não é nem sequência do outro (o que eu acho que faria sentido) ou spin-off. São duas histórias diferentes, com o mesmo nome, cujas semelhanças são o transplante de coração da personagem principal, um vilão interpretado pelo mesmo ator e a tecnologia baseada no teorema de Laplace. E eu me pergunto: por que? Qual o sentido de fazer isso? Qual o sentido de fazer duas adaptações, lançar na mesma época, e contar histórias diferentes, com personagens diferentes e um elenco diferente? Isso sem falar que eu procurei mais de meia hora pra achar qual era o material original do qual essas adaptações surgiram, só pra descobrir que não tem nenhuma tradução, nem para o inglês, nem para o português, então eu não faço nem ideia de qual das duas adaptações está mais fiel ao original. Eu realmente queria entender a origem de histórias tão diferentes vindas da mesma obra e isso me incomoda tanto que eu tive que escrever este post pra me livrar desse nervosismo, hahah!

O drama está disponível no YouTube com legenda em inglês, enquanto o filme pode ser assistido no Youku com legendas duplas (chinês + inglês).

Comentários

  1. Eu tenho uma ideia do motivo para duas adaptações tão semelhantes terem sido lançadas no mesmo mês assim, na cara dura. Alguém com muito dinheiro para gastar tinha dois roteiros e quis ver qual era melhor, sem nem pensar no quê isso poderia repercutir - ainda mais pelos ditos vilões serem interpretados pelo mesmo ator - tanto série quanto filme podem muito bem terem sido produzidos simultaneamente, e aí decidiram lançar ambos mesmo com uma execução ruim para ver no que dava. Tem louco com dinheiro para tudo nesse mundo - mas dado o que li, o filme seria a melhor escolha ah-haha!

    E realmente a ideia soa promissora, enquanto lia acabei me lembrando de Bungou Stray Dogs, que lida muito com isso e honestamente, independente de isso ter saído de um lugar em comum, quando se lida com assassinatos numa trama acho que isso pode subir a cabeça de quem escreve - algo do tipo "nossa, isso vai ser incrível huahuahua" - e ter de voltar a premissa que eles não estão soltos e necessitam de construção emocional para os atores se embasarem pode ser hm, chato? É só uma ideia minha mesmo.

    (adorei o set de imagens do Qi Mu, dá um belo meme ah-haha) gostei bastante da postagem, lê-la foi muito divertido!

    Beijos, Snow!

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    Respostas
    1. Então né, fiquei toda empolgada em comentar sobre a postagem que esqueci de responder o seu comentário kroewkrow

      Curiosamente, eu comecei o anime em um dia e terminei no outro mais pelo tempo livre, e as audições do meio para o final deixaram ele bem mais interessante. É algo muito bem pensado (deferente deste que você comentou kroewkrow) desde os personagens a interação deles com o ambiente - não sei como seria a colonização de Marte mas o que foi apresentado é no mínimo, curioso e instigante - dá para ver a mensagem sendo passada com sucesso. Não terminei Nana, só li o primeiro volume do mangá mas realmente, a ideia é semelhante. E deu para ver uma boa aprovação dele pela rede mas tenho a impressão de que Carole & Tuesday é aquele típico anime de temporada que marca pouca gente ;W; mas assista Max, e me diga suas impressões também!

      Eu realmente gostei bastante dele, bom saber que essa emoção consegue contagiar também ah-haha!

      E muito obrigada pelas suas palavras Max <3

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  2. Nossa, não conhecia nem o drama nem o filme e acho que não assistiria. Odeio quando deixam pontas soltas ou possíveis continuações sendo que não tem a pretensão de fazer uma segunda parte.
    A ideia central é muito boa, talvez se tivessem juntado as duas coisas e amadurecido a ideia poderia ser uma experiência melhor
    beijos
    https://www.dearlytay.com.br/

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  3. Primeiro que eu sempre acho estranho quando a série e o filme tem o mesmo nome, mas não a mesma história e elenco...
    Não conheço muito sobre filmes japoneses e tals, de forma geral parecem ser histórias bacanas, mas que poderiam ser mais legais ainda né.

    https://www.heyimwiththeband.com.br/

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